O documento será apresentado
nesta quarta-feira (23) durante audiência pública e já provocou
mobilização nos bastidores da equipe econômica. A relatoria do caso está
nas mãos do ministro Bruno Dantas, e a expectativa é de que representantes do Ministério da Fazenda acompanhem a sessão.
Segundo o relatório, o governo tem usado fundos privados e entidades para financiar políticas públicas fora do Orçamento Geral da União,
o que, para os auditores, configura uma tentativa clara de escapar do
controle legislativo e contábil. Outro ponto crítico é a concessão de crédito com recursos públicos sem o devido controle orçamentário e o não recolhimento de receitas à Conta Única do Tesouro Nacional, o que dificulta a rastreabilidade e a transparência dos gastos.
Os técnicos do TCU foram diretos: essas práticas ferem os princípios constitucionais da legalidade, da transparência e da responsabilidade fiscal. Mais do que isso, abrem espaço para desequilíbrio macroeconômico e desconfiança dos agentes de mercado.
O relatório alerta para as consequências imediatas dessas manobras: aumento
do risco fiscal, pressão sobre a política monetária, elevação das taxas
de juros, desvalorização do real, aceleração da inflação e fuga de
capitais. Na visão dos auditores, essas ações comprometem
diretamente a credibilidade da política econômica e limitam a eficácia
do Banco Central no controle inflacionário.
Embora o Congresso tenha
dado respaldo legal a algumas dessas medidas — por meio da aprovação de
leis e flexibilizações — o TCU destaca que a legalidade formal não mitiga os impactos econômicos reais.
O excesso de estímulos, afirmam os técnicos, enfraquece a política
monetária e pode levar o país a uma situação de instabilidade
financeira.
Até o momento, o governo Lula não se manifestou publicamente sobre os apontamentos do relatório.
A auditoria ainda está em andamento e o plenário do TCU pode reavaliar
os pontos levantados caso o Executivo apresente documentos ou
justificativas que demonstrem regularidade nas operações.
Nos bastidores, a
expectativa é de que a apresentação do relatório acirre ainda mais o
debate sobre a política fiscal do governo, já fragilizada por críticas
de economistas, investidores e instituições de controle. A denúncia de
manobras à margem do Orçamento também pode reacender embates no Congresso, especialmente entre oposicionistas que já vinham apontando para o risco de “pedaladas modernas” no novo modelo fiscal.
Em um momento em que o governo busca apoio político para avançar com sua agenda econômica, o alerta do TCU pode representar um novo entrave à narrativa de responsabilidade e previsibilidade fiscal — pilares cada vez mais cobrados por analistas e pelo mercado.