Envolvido em transações financeiras com um dos principais alvos da operação que investiga fraudes bilionárias contra aposentados do INSS, o advogado Nelson Wilians afirmou a interlocutores que os valores movimentados entre ele e o empresário Maurício Camisotti superam os R$ 15 milhões já conhecidos. Segundo o site Metrópoles, Wilians acredita que a Polícia Federal pode ter encontrado novos documentos que comprovam transações ainda maiores entre os dois, reveladas após a Operação Sem Desconto, deflagrada em abril.

A justificativa de Wilians, no entanto, levanta mais dúvidas do que respostas. Ele alega que os pagamentos seriam “antecipações de honorários advocatícios” — prática incomum no padrão jurídico, especialmente considerando o valor envolvido e o fato de Camisotti ser acusado de liderar um esquema de descontos indevidos na folha de beneficiários do INSS. O escândalo levou à demissão do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e à saída do ministro da Previdência, Carlos Lupi.

Apesar de ainda não ser formalmente investigado, Wilians procurou a Polícia Federal por conta própria, em um movimento raro, antes mesmo de ser intimado. O advogado, conhecido por seu estilo de vida ostentatório nas redes sociais, movimentou, segundo o Coaf, R$ 4,3 bilhões em operações consideradas suspeitas entre 2019 e 2024. Somente entre outubro de 2023 e julho de 2024, o escritório dele recebeu R$ 449 milhões em duas contas bancárias. Desse montante, R$ 15,5 milhões foram transferidos diretamente para Camisotti.

Wilians também foi advogado da Ambec, uma das associações apontadas como fachada para os descontos fraudulentos. A entidade saltou de três associados, em dezembro de 2021, para mais de 569 mil em março de 2024 — o que fez sua arrecadação mensal explodir de R$ 135 para R$ 30 milhões em menos de dois anos.

A assessoria de Nelson Wilians afirma que as transações com Camisotti são legítimas, privadas e compatíveis com a estrutura de seu escritório, negando qualquer relação com o esquema no INSS. Diz ainda que a relação entre ambos se limitava a “prestação de serviços jurídicos” e à “compra de imóvel para construção de um jardim”, feita de forma documentada. Já a defesa de Camisotti sustenta que os negócios com Wilians são anteriores à operação, envolvendo apenas “empréstimos pessoais” e transações imobiliárias.